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Camponês moçambicano, pronto para se reerguer | Diogo Cardoso/Divergente.pt

Enquanto a África Austral sofria uma seca extrema e se preparava para lidar com uma urgente necessidade de ajuda humanitária, uma outra tragédia igualmente relacionada com as alterações climáticas começava a ganhar força no Oceano Índico, onde se formava o Ciclone, Idai. As chuvas erráticas e as consequentes cheias trouxeram um sofrimento atroz a muitas pessoas. Por exemplo, uma semana antes de o Ciclone Idai ter chegado a terra, as cheias no Malawi e em Moçambique já tinham vitimado mais de 50 pessoas e destruído várias colheitas. Na segunda semana de março, o Ciclone Idai chegou a terra, na região da Beira, em Moçambique, e destruiu tudo por onde passou. Na noite do dia 15 e no dia 16 de março, chegou a vez do Zimbabué, onde o Ciclone Idai chegou em força, fustigando sobretudo as terras altas de Manicaland com os seus ventos fortes e cheias catastróficas. Além de destruírem pontes e estradas, as águas arrastaram e mataram muitas pessoas. No dia 25 de março, as estimativas oficiais já ultrapassavam as 700 vítimas mortais nos três países  mais afetados pelo Ciclone Idai (Zimbabué, Moçambique e Malawi). No entanto, estes números são provisórios e tendem a aumentar, uma vez que ainda há muitas pessoas dadas como desaparecidas. Só quando as águas começarem a escoar é que as equipas de resgate poderão ter acesso às zonas mais devastadas para procurar sobreviventes e que as populações poderão regressar às suas terras (para reconstruir as suas vidas).

O Ciclone Idai afetou muitos agricultores membros do ZIMSOFF da região oriental e de algumas zonas da região central (as zonas mais próximas de Moçambique), que perderam animais, colheitas e sementes. Ainda se está a avaliar os prejuízos, mas, segundo fontes governamentais e relatos dos meios de comunicação social, as zonas mais afetadas, com uma taxa de prejuízos que chega aos 90 %, foram os distritos de Chimanimani e Chipinge, que fazem parte da região oriental do ZIMSOFF. Algumas aldeias de Chipinge foram completamente arrasadas e calcula-se que centenas de pessoas dadas como desaparecidas estejam soterradas nos escombros das suas próprias habitações. O governo e os cidadãos do Zimbabué estão a mobilizar a ajuda necessária (recolhendo roupa, medicamentos, alimentos, dinheiro, etc.) e a prestar auxílio à população afetada.

Em Moçambique, o país mais afetado dos três países na rota do ciclone, a situação ainda é muito grave. Segundo as Nações Unidas (atualizações do Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU) a 24 de março, o balanço oficial apontava para 446 vítimas mortais, mas espera-se que esse número aumente, à medida que se vá ganhando acesso às zonas mais afetadas. Quase 110 000 pessoas refugiaram-se em 130 espaços coletivos de Sofala (mais de 78 400 pessoas), Manica (mais de 14 800 pessoas), Zambézia (mais de 9600 pessoas) e Tete (mais de 6800 pessoas). As autoridades identificaram mais de 6500 pessoas vulneráveis, incluindo idosos, portadores de deficiência, doentes, órfãos e crianças separadas das família, e estão-se a envidar esforços para reunir as famílias separadas. Os casos de diarreia líquida aguda (devido ao surto de cólera) estão a aumentar, tendo já afetado e vitimado agricultores membros da UNAC e os seus familiares.

Entretanto, o Zimbabué e algumas zonas de Moçambique sofrem uma grave seca relacionada com as alterações climáticas, que já destruiu a maior parte das colheitas e deixou milhões de pessoas com graves carências alimentares. Para a maioria dos agricultores da África Austral, os meses de setembro e outubro marcam o início da principal época de colheitas, em que os céus se abrem para trazer as tão necessárias chuvas, e antecipam uma época de abundância e prosperidade, a culminar os quatro a cinco meses das culturas. O atraso das chuvas, contudo, levou a que a época das colheitas de 2018/19, em vez de trazer esperança, trouxesse desespero à maioria dos agricultores. A chuva que efetivamente caiu não chegou para evitar que os solos ficassem ressequidos com as temperaturas insuportavelmente elevadas. A escassez de pasto e água potável levou a que muitos agricultores camponeses perdessem os seus animais e as chuvas que caíram em dezembro de 2018 não foram suficientes para permitir a semeadura ou a preparação da terra. Os poucos agricultores que conseguiram plantar alguma coisa pouco obtiveram e ainda esgotaram as suas provisões de sementes, porque quase nada germinou. Adivinhando-se já uma catástrofe de enormes proporções nos finais de 2018, no início de 2019, as Nações Unidas e os governos já faziam apelos de ajuda humanitária urgente.

Este texto foi traduzido do inglês exclusivamente para Alternactiva por: MMichelle Hapetian