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Parte dos 18 jovens detidos, caminhando em liberdade hoje (30/11/2019), nas ruas de Xai-Xai. “A Luta Continia. É a vez do povo”, gritavam | Inilda Albano

À hora em que escrevo estas linhas, acabam de libertar, após pagamento de caução, os 18 activistas eleitorais do Partido Nova Democracia, ilegalmente detidos durante três semanas. O julgamento só terá lugar em 2020, mas independentemente do desfecho judicial, o movimento de solidariedade criado em volta dos “G18” já conquistou milhares de adeptos, no país e não só, e já valeu às autoridades mais um abalo na credibilidade e uma condenação da Amnistia Internacional.

A incapacidade do governo e da PGR em se demarcarem do ultra-zeloso caciquismo que tratou os activistas como “traidores a Gaza”, acabou por ter efeitos perversos. Desde logo, surgiram protestos anti-governamentais em Gaza, o “bastião histórico” onde Oposição é blasfémia. Os presos eram gente da terra, jovens estudantes ou trabalhadores sem qualquer vínculo à odiada Renamo, e o apelo à sua libertação formulado pelos familiares conquistou as primeiras simpatias.

Incidentes semelhantes ocorreram em numerosos locais de voto pelo país fora, conforme atestam (quase todos) os observadores internacionais. Muitos activistas da Oposição foram impedidos de acesso ou intimidados ou mesmo detidos. O que impediu que este caso caísse no esquecimento foi a campanha lançada pelo PND, exigindo a libertação dos seus activistas.

Porém, que a questão transcende o PND, disseram, desde o início, as porta-vozes da campanha de solidariedade com os detidos. Para Quitéria Guirengane e Cídia Chissungo, a detenção ilegal dos dezoito era uma violação dos direitos cívicos e eleitorais consignados na Constituição da II República e por isso devia merecer a condenação de todos os cidadãos. Esse amplo apelo foi angariando um número crescente de apoiantes, sobretudo entre a juventude. Pela primeira vez, a relação que um agente político propunha não era de sentido único. Não estavam a distribuir camisetes com slogans partidários; estavam a trocar posts e comentários sobre uma questão concreta, uma coisa ocorrida com jovens e denunciada por jovens.

A campanha soube usar as redes sociais, falando aos cidadãos num tom esclarecido mas informal, longe dos habituais chavões políticos em que já ninguém realmente acredita. Criou o tag #GAZA18 e convidou todos a apoiar desenvolvendo a criatividade, mas definiu bem etapas que foi cumprindo, sempre a crescer. O PNR terá certamente conquistado simpatias, mas o processo atraiu muitos mais cidadãos sem filiação partidária, descontentes mas impotentes perante a ilegalidade reinante.

#GAZA18 mostrou que é possível fazer oposição eficaz sem cortar orelhas nem gastar fortunas em showmícios, usando bem as armas mais modernas e abrangentes da comunicação on-line. Mostrou que é possível mobilizar com êxito para campanhas com objectivos sectoriais bem definidos, mas susceptíveis de reunir amplos consensos entre as várias sensibilidades opostas ao governo. E mostrou que a solidariedade afinal não morreu.

 

* José Pinto de Sá é Jornalista, tradutor e ficcionista.