O ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, saiu na tarde de ontem (sexta 8, hora do Brasil) da prisão em que se encontrava injustamente encarcerado como preso político há 580 dias nas instalações da polícia federal, em Curitiba. Como todas as forças verdadeiramente progressista do mundo o deverão estar a fazer, celebro com regozijo a sua soltua, como ativista de esquerda.
Lula entregou-se à polícia federal no dia 7 de abril de 2018 tão certo de que aquilo se tratava de uma prisão política e ilegal e que de lá algum dia em breve sairia. Nas poucas vezes que se lhe ouviu falar, sua voz e eu semblante deixavam sempre transparecer essa certeza. E, de fato, o homem mais popular da nação Brasileira caminhou livre e “lançou-se” aos braços de centenas de brasileiras e brasileiros que, como ele, nutriam a esperança do seu retorno ao convívio com os seus.
A perseguição política ao Lula, camuflada de processo judicial, visando afasta-lo da corrida eleitoral, e acima de tudo, desacreditar e combater a esquerda no Brasil, foi um insulto irremissível para as forças progressistas do mundo inteiro, armada por uma quadrilha lacaia do reacionarismo fascista do país.
O mundo todo apercebeu-se de imediato da trama que se estava a urdir, daí a onda massiva de manifestações de repúdio que se fizeram ouvir e sentir de vários quadrantes e de diversas formas e eu juntei-me à campanha.
Em Portugal, país a partir do qual acompanhei o enredo todo, desde o golpe contra a Dilma Roussef, a prisão do Lula e a eleição de Jair Bolsonaro, as manifestações de denúncia decorreram um pouco por todas as partes, mas as forças contrarrevolucionárias também. O anti-lulismo e o anti-petismo, isto é, a forma como chamavam ao ódio pela esquerda e pelos seus valores, está fortemente representada em Portugal. Prova disso é a existência de uma forte crispação entre a comunidade brasileira aqui residente, traduzida vezes sem conta em rixas verbais duríssimas, nas redes sociais e nas ruas. Há situações em que se escalou e resultou em embates físicos.
A liberdade de Lula representará portanto uma severa “derrota” para o bolsonarismo imigrante cá e noutros quadrantes e poderá exacerbar a cólera. Nem todos os anti-lulistas estarão ainda de amores com o Bolsonaro quando este revela paulatinamente que os enganou ideológica e programaticamente e manifesta níveis de despreparo confesso. Mesmo assim, o grosso da ala bolsonarista de cá, quão inflexível, continuará a empurrar com a barriga e agudizar suas convicções.
E a esquerda? Será preciso manter a humildade, continuar a promover debates responsáveis e agendas que para vão para além do Lula.
Apraz, contudo, dizer: “O Lula está ‘Livre’, babaca!”.
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* – Boaventura Monjane é jornalista e ativista moçambicano, residente em Portugal. É doutorando no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Considera-se amigo do Brasil, país que visita frequentemente desde 2010.