“Memórias de uma Língua de Cão” é assim que se denomina a instalação imersiva de Marilú Mapengo Námoda com a curadoria de Élia Gemuce. Trata-se de um regresso à infância de Marilú. Uma infância que foi, praticamente, passada ao lado de uma “língua de cão”, o Chwabo. A artista refere que essa instalação é um reconstituição de “um passado-presente de aprendizados proibidos, interrompidos e que permanecem fragmentados. Memórias que servem para nos lembrar das concepções civilizatórias racistas que foram criadas e impostas sobre nós e que inconscientemente reproduzimos, todos os dias”.
Marilú, nesta instalação, cruza tempos, identidades e acende-nos um archote utópico que nos pode servir de guia enquanto um povo que domina a gramática da “língua de cão” num contexto pós-colonial. “O elemento central desta proposta artística é um alfabeto re-criado com base em referências visuais e de significado do sistema ancestral de escrita simbólica Bantu. A instalação pretende questionar identidades étnicas na pós-colonialidade e construir um espaço utópico (pastopias) de resignificação deste legado histórico como uma experiência de cura para traumas identitários intergeracionais. O que significa ser um povo Bantu hoje?”
Marilú Namoda faz parte do Comité Editorial d´ Alternactiva. Nasceu em Quelimane, em 1991. É licenciada em Sociologia pela Universidade Eduardo Mondlane (Maputo). Completou 45% do seu Mestrado em Direitos Humanos pela mesma Universidade em 2015; é pós-graduada em Estudos de Género pelo programa UNU-GEST da Universidade da Islândia – Reykjavik, 2016.
Marilú Mapengo Námoda desempenha múltiplas funções no movimento feminista moçambicano onde é activista militante desde 2012. No seu percurso desenvolveu interesse pela educação política feminista que potencializou os seus processos de questionamento sobre o mundo patriarcal, capitalista e (neo) colonial em que vivemos. Em 2014, Námoda inicia as suas práticas artísticas construindo uma abordagem que mistura auto-terapia e pedagogia. Os seus principais materiais de trabalho são as suas experiências, reflexões e pesquisas sobre temas como: corpo, género e sexualidade; colonialidades, memória e família.
“Memórias de uma Língua de Cão” será aberta ao público no dia 11 de Outubro, pelas 18h, no Centro Cultural Brasil-Moçambique.