Os marginais da boçalidade e da canalhice não queriam deixar o ano terminar sem beberem do sangue de mais uma pessoa das que sequestram e torturam para as silenciar.
Os ancestrais do Matias Guente, editor do jornal Canal de Moçambique, não permitiram o pior, mas mais um jornalista encontra-se hospitalizado, recebendo cuidados intensivos. É preciso lembrar que contra este jornalista tentou-se no passado a via judiciária, tendo sido sempre absolvido.
É o fascismo a ascender na nossa sociedade, com o apoio, consciente ou não, de teóricos esclarecidos, legitimando o ataque a imprensa e a sociedade civil, com o fim último de forçar o encolhimento do espaço e da atividade cívicas.
Este repertório do fascismo inclui a mobilização da opinião pública contra movimentos e organizações sociais, activistas e a imprensa livre, associando-as ao imperialismo ocidental (mão externa) e usando a propaganda na condução de uma agenda antipopular em nome da defesa da pátria (exaltemos a pátria).
De um modo geral, isto tem facilitado o crescimento de um populismo de direita e de um neoliberalismo autoritário, com a intenção de fechar as possibilidades de mudança progressiva representada pela sociedade civil em aliança com os movimentos populares.
É urgente conter essa onda, usando quaisquer meios possíveis. Será preciso construir uma contra narrativa, teoricamente, expondo o bizarro e os perigos dessa lógica fascizante ao mesmo tempo que munir as potenciais vítimas de mecanismos e meios materiais para se defenderem.
* – Boaventura Monjane é jornalista e ativista moçambicano. É doutorando no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.